sexta-feira, 25 de maio de 2012

Sua tireóide está fazendo você engordar?


tireóide

Apesar de pequena, a glândula é fundamental para o bom funcionamento de vários sistemas do organismo. Veja até que ponto ela pode ser responsável por seus quilinhos a mais

Há um conceito popular de que o mau funcionamento da tireóide, que a deixaria ‘preguiçosa’, leva ao ganho de peso. Basta o indivíduo aumentar dois ou três quilos e a ‘culpa’ cai sobre a pequena glândula situada no pescoço, logo abaixo do Pomo de Adão, em formato semelhante ao de uma borboleta. Na verdade, a crença teve início há décadas, quando se associava uma hipofunção (funcionamento reduzido) da tireóide ao acúmulo de gordura no corpo. Segundo o endocrinologista Giuseppe Repetto, membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), este fato era reforçado por um exame feito por um complexo aparelho que media o consumo de oxigênio em um sistema fechado, em jejum e em repouso, chamado de ‘metabolismo basal’. Os pacientes que tinham baixo consumo de oxigênio possuíam taxa metabólica basal mais baixa quando comparados ao padrão de normalidade, que relacionavam esse consumo à idade, ao sexo, ao peso e à altura de indivíduos considerados normais (o padrão ia de mais 10% a menos 10 % do consumo de oxigênio da normalidade). Números acima desse padrão eram relacionados com o excesso de funcionamento da tireóide e valores abaixo dele com a diminuição do funcionamento da tireóide.

UMA PEQUENA REGENTE

A tireóide é fundamental para o bom desempenho de vários sistemas e órgãos, entre eles os ovários, cérebro, fígado e rins e sua importância para a saúde é inversamente proporcional ao seu tamanho. “Ela possui dois lobos, direito e esquerdo, unidos por um istmo, o que a faz parecer uma borboleta. Levíssima, pesa em média 20 gramas. É no interior de seus lobos que são fabricados os hormônios tireoidianos, a tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3). Porém, apesar de tão pequena, ela é a responsável pelo metabolismo do organismo”, diz Flávio Boturão Guerra, endocrinologista do Hospital Santa Paula, em São Paulo. O que não é pouco, diga-se de passagem. Para dar uma idéia da importância da glândula, é bom saber que metabolismo basal não se resume ao gasto calórico que acontece quando você faz atividades tão diferentes como correr uma maratona, digitar um texto no computador ou ainda ler um livro. “O metabolismo basal responde pelo nível de normalidade de todas as funções celulares do organismo. A glândula hipófise é responsável pela produção dos hormônios, que regulam a função da tireóide, das supra-renais, dos testículos dos homens, dos ovários das mulheres, do hormônio do crescimento, da prolactina (que regula a lactação), etc”, relata o endocrinologista Antonio Carlos do Nascimento em seu livro Tireóide para todos – tudo o que você precisa saber para ter uma vida mais saudável (Editora Matrix). Isso equivale a dizer que da harmonia geral do organismo e das glândulas entre si, com suas inter-relações, é que temos a boa função do corpo. Uma má função hipofisária pode gerar má função tireoidiana e vice-versa.

O DISTÚRBIO AFETA CERCA DE 1% A 3% DA POPULAÇÃO GERAL E É MAIS FREQÜENTE ENTRE AS MULHERES, EM UMA PROPORÇÃO DE QUATRO PARA UM EM RELAÇÃO AOS HOMENS

Os obesos, na sua maioria, tinham valores baixos. Segundo o especialista da Abeso, este fato é hoje explicado graças ao método da câmara metabólica nos estudos de calorimetria, no qual se verifica que, para cumprir as mesmas tarefas, os obesos gastam menos calorias do que indivíduos normais e, com isso, ‘queimam’ menos oxigênio. Portanto, além da suposição popular que dizia que a obesidade era uma doença das glândulas, o gordo tinha um ‘comprovante laboratorial’ de que o distúrbio era glandular, atribuível à tireóide.

Um dos muitos sintomas do hipotireoidismo — ou seja do funcionamento lento da glândula — pode ser, sim, o ganho de peso. Mas, antes de jogar toda a responsabilidade na tireóide, saiba que esse aumento na balança se traduz em apenas três, quatro ou cinco quilos, no máximo. “O hipotireoidismo é a disfunção mais freqüente da tireóide. Ele deixa toda a nossa ‘máquina’ mais ‘lenta’. A pessoa pode até passar por preguiçosa, sem força de vontade, pois está sempre se queixando de fadiga, sonolência, dores no corpo, desinteresse pelo trabalho, raciocínio lento e ganho de peso”, explica a endocrinologista Anete Hannud Abdo, do Projeto de Atendimento ao Obeso (Prato), do Hospital das Clínicas de São Paulo. Esse aumento de peso, porém, regride com o tratamento que engloba, além do uso do medicamento, a prática de atividade física e a adoção de uma alimentação saudável. “Se você tem hipotireoidismo, mas toma medicamento à base de hormônio de tireóide para repor a deficiência na dose certa para normalizar as taxas no sangue, não terá mais sintomas. Não há motivo para engordar ‘por causa da tireóide’ se o tratamento está sendo feito corretamente”, avisa a especialista.

DEVAGAR COM O SAL

Durante um ano e meio a equipe da unidade da Tireóide do Hospital das Clínicas de São Paulo, chefiada pelo endocrinologista Geraldo Medeiros, fez uma pesquisa entre 820 moradores da região do grande ABC para checar a quantidade de iodo consumida. Os resultados, divulgados no ano passado, foram preocupantes: 32% dos indivíduos avaliados por meio de exames de urina e ultra-som da tireóide estavam consumindo quantidades de iodo acima do desejável. Em outro estudo realizado pela mesma equipe nos estados do Norte e Nordeste mostraram dados ainda mais alarmantes. O problema é que iodo em excesso pode provocar a tireoidite auto-imune. O assunto é polêmico, mas os pesquisadores têm duas hipóteses para explicar o aumento da ingestão de iodo na população pesquisada. Primeira: o sal brasileiro, por lei, deve levar uma certa quantidade de iodo que varia entre 20 a 60 miligramas por quilo de sal. Porém, de 1998 a 2004, o Ministério da Saúde aumentou o limite máximo que, de 60 mg, passou a ser de 100 mg por quilo. Segundo o endocrinologista Geraldo Medeiros, da USP, esse aumento pode ter funcionado como uma bomba de efeito retardado no organismo. Ou seja: o excesso de iodo acabou provocando tireoidite auto-imune que, por sua vez, causa o hipotireoidismo, em especial nos pacientes que já apresentavam uma predisposição genética para ter disfunções tireoidianas. A segunda hipótese é a ingestão exagerada de sal no dia-a-dia do brasileiro. A Organização Mundial da Saúde aconselha um consumo máximo de 6 g de sal (ou 2,4 g de sódio) por dia para um adulto — o equivalente a uma colher de chá de sal de cozinha. Através de pesquisas, constatou-se que os brasileiros consomem em média 12 a 13 g de sal, ou o dobro do recomendado. Por isso, os especialistas orientam: tire o saleiro da mesa. Além de contribuir para o aumento da pressão arterial, o cloreto de sódio também pode se transformar em fator negativo para o bom funcionamento de sua tireóide.

TRATAMENTO DA TIREÓIDE

A baixa produção de hormônios tireoidianos está ligada a fatores hereditários e, mais raramente, a pouca ingestão de iodo na alimentação. “Uma das causas importantes do hi potireoidismo é uma inflamação crônica da tireóide, conhecida como tireoidite ou doença de Hashimoto”, revela o médico Flávio Boturão Guerra, endocrinologista do Hospital Santa Paula, em São Paulo. Esta é uma doença auto-imune e caracteriza-se pela produção exagerada de anticorpos pelo sistema imunológico que agridem a própria glândula. Dessa maneira, diminui a capacidade funcional da tireóide.

Em alguns casos, na presença de um tratamento anterior de hipertireoidismo (aumento do nível de T3 e T4 no sangue), a glândula também pode produzir menor quantidade de hormônios do que o desejável.

O hipotireoidismo pode ser facilmente diagnosticado por meio de exames de sangue que identificam se há níveis baixos do hormônio T4. A quantidade de hormônio estimulador da tireóide (TSH), produzido na hipófise, também é testado. Níveis acima do desejável podem indicar que a tireóide está começando a falhar, ou seja, que já está se instalando um quadro de hipotireoidismo.

Os exames podem ser complementados com a averiguação da presença de anticorpos contra a tireóide (anti-TPO e anti-tiroglobulina), o que indicaria a presença da tireoidite de Hashimoto. O tratamento é feito com medicamentos contendo hormônio tireoidiano para suprir o que a glândula não é mais capaz de produzir. Dessa maneira, os sintomas da doença desaparecem em alguns meses. Porém os cuidados seguem pela vida inteira. É importante saber que a medicação deve ser tomada rigorosamente de acordo com a prescrição do médico.

QUEM DEVE FICAR ATENTO

• Mulheres com mais de 40 anos e homens com mais de 60 anos (o hipotireoidismo é mais comum entre o sexo feminino, e é mais freqüente com o avançar da idade, embora também possa aparecer em crianças) 
• Mulheres no período pós-parto (até aproximadamente seis meses) 
• Pacientes com antecedente de outras doenças da tireóide (hipertireoidismo, tireoidite) 
• Indivíduos com histórico de radioterapia na região do pescoço 
• Pessoas com depressão refratária a tratamento, síndrome do pânico 
• Pacientes com antecedente familiar de doença da tireóide ou de doença auto-imune

(Fonte: Anete Hannud Abdo, endocrinologista do Projeto de Atendimento ao Obeso, do Hospital das Clínicas de São Paulo)

OUTROS SINAIS IMPORTANTES

Em geral, quem tem um quadro leve de hipotireoidismo nem sempre apresenta sintomas nítidos ou os sinais podem aparecer muito devagar. Mas conforme a produção dos hormônios cai, surgem diversas manifestações tais como: 

• depressão 
• diminuição da audição 
• aumento de pressão arterial 
• falta de ar 
• ronco, apnéia do sono 
• prisão de ventre 
• diminuição do volume de urina 
• dores articulares 
• fraqueza e dores musculares 
• cãibras 
• pele fria, pálida e seca 
• transpiração diminuída 
• palmas das mãos amareladas 
• queda de cabelos 
• unhas fracas e quebradiças 
• diminuição da libido 
• irregularidade menstrual 
• anemia 
• aumento do colesterol

Por: Rose Mercatelli e Yara Achôas

Assine para receber novos artigos

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...